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Tecnologia reorienta Educação a Distância no país

Criado: Segunda, 02 de Abril de 2018, 11h26 | Publicado: Terça, 03 de Abril de 2018, 00h02 | Última atualização em Segunda, 02 de Abril de 2018, 11h27 | Acessos: 2365

A proporção de matriculados nos cursos presenciais do ensino superior vem caindo nos últimos anos, ao contrário das matrículas na modalidade do ensino a distância (EaD). Segundo o Censo de Educação Superior 2016, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2015 a 2016 correu queda de 3,7% no volume de matrículas nos cursos presenciais, porém no mesmo período houve aumento de 20% no ingresso de estudantes nos cursos EaD.
Um fator conjuntural que explica a nova trajetória é a própria retração econômica, uma vez que o valor das mensalidades de cursos EaD chega a ser, em média, 15% menor do que o valor das mensalidades de cursos presenciais. Mas o que tem pesado mesmo são os fatores estruturais. A modalidade EaD apresenta inúmeras vantagens como flexibilidade de horários, economia de tempo, definição de ritmos diferentes de aprendizado e análise de facilidades e dificuldades por estudante. A consultoria Educa Insights propõe que, até 2026, os cursos a distância vão ultrapassar o ensino presencial em número de alunos.
Em entrevista ao jornalista Luis Nassif, o vice-presidente do EaD da Kroton Educacional, Roberto Valério, destaca como responsável pela expansão o avanço das telecomunicações, transmissão via satélite e acesso à internet. “Esse conjunto de tecnologias está mudando muito o mundo, não poderia ser diferente na educação”, pondera o representante da maior empresa privada do mundo no ramo da educação, e que hoje responde pela fatia de 37% do mercado de EaD no Brasil.
Em regra, nos cursos de ensino a distância a maior parte do material didático é fornecida por meio de plataformas online assim como aulas, que podem ser transmitidas ao vivo para milhares de alunos ao mesmo tempo e, em seguida, disponibilizada para ser acessada pelo indivíduo quantas vezes for necessário. Os encontros presenciais podem acontecem para avaliações nos cursos inteiramente à distância, ou uma vez por semana nas modalidades semi-presenciais.
Quem recebe os alunos nos encontros presenciais são os chamados tutores, que também ficam disponíveis online para tirar as dúvidas dos alunos em qualquer horário do dia e, até mesmo, durante a noite, segundo Valério.
"O que temos feito não é somente responder perguntas que o aluno faz, mas identificar assuntos que são importantes para ele, fazendo com que o nosso tutor entre em contato com este aluno”, explica o porta-voz da Kroton, completando que a rápida coleta de dados por indivíduo, facilitada no ambiente digital, permite gerar um modelo preventivo contra o abandono do curso.
“Conseguimos, por exemplo, saber se o aluno está indo nos cursos presenciais uma vez por semana, se está acessando o ambiente virtual e quais os exercícios e os conteúdos que leu. Com esses dados o nosso instrutor à distância pode entrar em contato com o aluno e dizer: ‘puxa, Roberto, vejo que você faltou nas últimas duas semanas e faz mais de dez dias que não acessa o ambiente virtual de aprendizado. Sua prova é daqui a 15 dias. Vamos montar um plano de estudo para você cumprir tudo?’”.

Gamificação para aprendizagem
As instituições de ensino também começam a oferecer exercícios e estudos no formato de games. O nome do material pedagógico desenvolvido pelo grupo Kroton, segundo Valério, é o Desafio Nota Máxima.
“É como se fosse uma revisão dos conteúdos que o aluno teve durante o curso de graduação, mas ele faz isso em uma plataforma de adapted learning [aprendizagem adaptada]. Basicamente, a plataforma entende quais são gaps [lacunas] dos alunos, em função dos exercícios que ele vai fazendo e respostas que vai dando”.
Nesse programa, continua o executivo da educação, o incentivo para o estudante acontece com base em um modelo semelhante ao de jogos eletrônicos, conquistando pontos conforme o avanço nas respostas.

Promessa de conexão maior com o mercado
Outro fator tecnológico que promete remodelar a forma como os cursos de educação são oferecidos hoje é a interação entre o currículo exigido pelo Ministério da Educação e o currículo desejado pelo mercado de trabalho.
“Nós temos uma plataforma que é, ao mesmo tempo, uma plataforma de empregabilidade para o aluno, mas também uma plataforma onde nós [instituição de ensino] e empresas temos acesso”, pontua Valério. No ambiente online, as empresas ajudam a colaborar com a formulação de alguns conteúdos. Nesse sentido, o porta-voz da Kroton reitera que os materiais didáticos não deixam de responder às exigências do MEC.

Alta evasão
Apesar dos inúmeros pontos positivos apresentados até aqui a respeito da EaD o índice de abandono nesta modalidade é alto, ultrapassando as margens de cursos presenciais.
O último levantamento sobre o tema realizado pela Associação Brasileira de Ensino a Distância, em 2015, mostra que as instituições que oferecem cursos totalmente online respondem por 50% da total de taxa de evasão no ensino superior brasileiro. Nos cursos semipresenciais e presenciais a proporção é de 25%.
Os motivos apresentados pelos alunos para a desistência são falta de tempo, questões financeiras e dificuldade de adaptação. Pelo que vimos ao longo da matéria, tempo e dinheiro são justamente os fatores que aumentaram a taxa de matrículas no EaD. Logo, o fator mais lógico é a dificuldade de adaptação.
A Educa Insights também realizou na sua pesquisa um levantamento para estabelecer melhor os motivos da evasão e percebeu que a falta de contato presencial prejudica a fidelização do aluno. Em outras palavras, as instituições que conseguiram manter maior proximidade com os alunos (por meio de ligações, e-mails, mensagens e encontros presenciais), foram as mais exitosas em termo de manutenção do estudante até o final do curso, enquanto que as que não prezavam pela criação de laços tinham níveis maiores de evasão.
"Houve instituições que durante o ciclo que experimentamos estar com eles, durante quatro meses não nos procuraram nenhuma vez. A gente não ia às aulas e simulava não fazer as atividades e não éramos procurados", disse o fundador da Educa Insights, Luiz Trivelato, em entrevista para a Agência Brasil em maio de 2017, quando o levantamento foi publicado.
Segundo a consultoria, a infraestrutura do polo também é um fator determinante para o êxito do método de ensino, ajudando no "encantamento" do estudante, lembrando que, por lei, são obrigatórios momentos presenciais no EaD. Os pesquisadores registraram casos em que os polos tinham ar condicionados que não funcionavam e laboratórios de informática "claramente improvisados".

Resiliência e adaptação
A adaptação a um modelo educacional que exige mais determinação e disciplina do estudante, já que ele passa a ter responsabilidade sobre a agenda de aulas, é também avaliado como um fator que contribui para a evasão. A falta de cultura disciplinar acarreta no acúmulo de matérias não acessadas e, consequentemente, no abandono de cursos.
Valério, vice-diretor de EaD da Kroton, inclusive, comenta que os alunos que chegam até o final dos cursos à distância demonstram uma capacidade de resiliência superior.
“Quando a gente olha o histórico, a performance acadêmica dos alunos de educação à distância, em alguns momentos, é superior [a dos alunos presenciais]. Mas é muito difícil dar essa resposta [de forma clara] porque depende do curso, depende da área, depende da região geográfica. Acho que seria injusto classificar qualquer um dos dois como melhor ou pior”, arremata.

Tutores e precarização no ensino
Valério afirma que os chamados tutores, responsáveis pelo contato mais direto com as estudantes das classes EaD são professores com formação específica nos cursos que ministram e com pós-graduação, no caso do ensino superior.
“Por exemplo, num curso de Administração, temos um especialista, que é um professor dando aula no estúdio, mas localmente é alguém com formação em administração de empresas com alguma pós graduação, que pode ser mais específica, mas que tem que ser com relação à área de conhecimento”.
Entretanto, essa não é a realidade de todos os cursos EaD, revela Andrea Luciana Harada Sousa, diretora do Sindicato dos Professores e Professoras de Guarulhos e mestre em Educação pela Unicamp, com estudo sobre a precarização da força de trabalho docente onde abordou a questão EaD.
Também em entrevista para Luis Nassif, que você acompanhará na segunda reportagem desta série, Harada Sousa destaca casos de turmas presenciais de até 300 alunos com a orientação de apenas um tutor e, ainda, sem formação adequada.
Ela explica que dois anos após o MEC estabelecer critérios legais mais claros sobre a Educação à Distância, o Conselho Nacional de Educação emitiu um parecer usando o termo “profissionais da educação” para se referir ao papel do tutor nos cursos EaD. “Isso fragilizou a situação do tutor, ao invés de fortalecer a ideia de que a educação à distância deveria contar com uma equipe de professores”, pontua.

 

* Texto original da Plataforma Brasilianas, publicado pelo Jornal GGN, em 29/03/2018.

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